Última oportunidade
Mandei mensagem a saber como estão. Respondeu logo com um testamento, porém depois da minha resposta não disse mais nada. Talvez não tenha gostado do que eu lhe disse. É a vida. Eu também não gosto da ausência dela.
Ao que parece a filha tem andado muito doente, mas nas redes sociais (embora não sejamos amigas lá, eu admito que sou curiosa como diz a minha tia) ela está sempre com publicações do quanto a filha é saudável e está a crescer bem, do quanto são felizes e dos momentos de diversão que passam juntas. Irónico, a mim disse-me que está cansada e que as coisas não andam a correr como era suposto.
Sugeriu que nos encontrássemos para metermos a conversa em dia pois precisa de sair da rotina. Engraçado, ainda agora esteve de férias com a filha numa das praias mais frias do país, não foi saída suficiente da rotina? Respondi-lhe que não havia problema, mas que teria que me avisar com antecedência porque tenho tido coisas marcadas nos finais de dia e aos fins-de-semana mas que era quando ela quisesse. Ah, e que podia vir ter comigo a minha casa e íamos passear a algum lado, para não ser sempre eu a ir ter com ela à terra dela. Lá está, não deve ter gostado da minha sugestão... Pelo que parece devo ter que ser sempre eu a mandar mensagem, a telefonar, a combinar o dia, a ir ter com ela à casa dela. Está enganada. A nossa amizade pode ser longa, muito longa, mas eu estou cansada.
Estou cansada de andar atrás de uma amiga que não me liga nenhuma mas tem tempo para as redes sociais. Ok, é casada e eu não. Tem uma filha e eu não. Mas porra, somos, supostamente, melhores amigas há 15 anos, isso não significa nada? Não arranja 5 minutos para falar comigo? Quando a miúda está a dormir, por exemplo. A vida é assim tão ocupada? Sempre que mando mensagem responde uma vez e depois deixa de responder. Já nem me dou ao trabalho de telefonar, já sei que vou ser ignorada. Por isso desisti das chamadas telefónicas. Agora só mensagens e até essas já estou a caminho de desistir. É certo que moro com os meus pais, mas também tenho a casa para tratar e cuidar, só me falta o marido e um filho ou uma filha. Mas que culpa tenho eu se não me aparece um príncipe encantado? E consigo ter tempo para falar com as pessoas.
Esta foi a última oportunidade que lhe dei. Quer marcar um encontro comigo? Então marque. Foi ideia dela, ela é que tem que dizer alguma coisa, não sou eu. Eu não lhe vou dizer mais nada. Aposto que ela agora só me dirá algo no meu aniversário no final do ano. Se se lembrar que eu faço anos, com sorte até se esquece. Se até lá não me disser nada eu só lhe direi algo igualmente em Dezembro: a desejar um Feliz Natal.
Já diz o ditado: amor com amor se paga.