Chorar sobre o leite derramado
Quando andava na escola, tanto básica como secundária, nunca quis ter actividades extra-curriculares. A única que tive foi no 9º ano por insistência da minha professora de Português. Teatro, para apresentação no final do ano lectivo para angariarmos dinheiro para a viagem de finalistas da minha turma. Ela insistiu que eu era a pessoa indicada para fazer um dos papéis principais. Embora houvesse uma rapariga que quisesse fazer esse papel a professora queria que fosse eu a interpretá-lo, e eu lá aceitei. No final acabei por gostar bastante da experiência. Fora isso nunca tive mais nada.
Hoje, com 27 anos, arrependo-me um pouco de não ter querido fazer nada quando era criança e adolescente. Vejo uns desenhos animados na RTP2 ao final do dia sobre um rapaz que tem aulas de piano, Max e o Maestro, e meto-me a pensar como estaria eu se na idade daquele miúdo tivesse tido aulas de qualquer coisa, piano, guitarra ou outra coisa qualquer. Mas depois lembro-me que nesta terra a única coisa que havia era o rancho folclórico e eu nunca achei piada nenhuma a isso quando ia às festas da terra.
Também, por vezes, me meto a pensar que podia ter-me esforçado mais na escola. Nunca chumbei mas também nunca fui aluna de cincos nem de dezoitos. Era mediana. No básico estive sempre no quadro de empenho e dedicação mas nunca cheguei ao de excelência. Nunca ambicionei ser a melhor da turma ou da escola ou do que quer que fosse. Ficava feliz por passar de ano e por não ter negativas. Mas podia ter-me esforçado mais, principalmente em Inglês. Culpo um pouco os professores que tive nessa língua. Nas aulas eles pareciam que estavam a fazer um frete, não mostravam o gosto pela língua inglesa. Talvez por isso eu na altura também não ficasse entusiasmada com a disciplina. A culpa não era deles e sim minha. Lá porque eles não mostravam interesse eu podia ter-me interessado mais por inglês - e pelas outras disciplinas todas. Hoje vejo a falta que a língua me fez tanto na universidade como actualmente.
Colegas de trabalho dizem-me que quando os ginásios reabrirem eu devia voltar para lá para não ter rotina de casa-trabalho-casa e ter algo extra para desanuviar a cabeça. Em parte concordo com elas, mas por outro lado não sei se tenho novamente paciência para ir para lá depois de 8h passadas ao sol. Eu adorava as aulas de zumba, houve uma altura que ia ao ginásio apenas para essas aulas. Nem sei se vão voltar a haver essas aulas, uma das instrutoras teve bebé pois isso... Também há karaté numa associação daqui. Às 21h30, na terra onde trabalho. Saio às 18h, não vou estar a ir para casa para depois ter que sair outra vez e voltar para casa novamente, ainda é meia hora de caminho. A brincar, perdia logo uma hora e meia de vida (mais combustível que não está nada barato). Se fosse logo às 18h30 como era o zumba, aí sim... Mas a vida não é perfeita e por enquanto só resta esperar para ver como as coisas se vão desenvolver em relação à pandemia...
É como diz aquele ditado: não vale a pena chorar sobre o leite derramado. O passado está no passado e não se pode mudar. Hoje quero aprender inglês e estou a esforçar-me. Não tenho ninguém com quem partilhar o estudo mas acredito que consigo aprender sozinha. Existem imensos canais no youtube e livros, por isso não há desculpas. Quanto à actividade extra, um dia hei-de encontrar alguma. Gostava de aprender alguma coisa - além do inglês -, ando em busca de algo e esse algo há-de aparecer. E há-de ser uma actividade que irei adorar, como o zumba.
Até lá, não vale a pena estar com arrependimentos porque o que está feito feito está e por isso é investir no agora as coisas que ainda vamos a tempo de fazer.