Morreu - não gosto da palavra faleceu, desculpem a brutidade - uma amiga pela qual eu tinha um grande carinho. Uma senhora de 83 anos, avó da minha melhor amiga. A última vez que falei com ela foi quando nasceu a minha sobrinha, ao telemóvel. Não a via há bastante tempo, com a saúde frágil como ela tinha, trabalhando eu ao atendimento ao público, juntando o vírus que ainda aí anda... tive receio de lhe transmitir alguma coisa. Agora arrependo-me de não ter ido visitá-la nem que tivesse sido apenas à porta da casa dela, à distância.
Gostava, e continuo a gostar, como se de uma avó se tratasse. Ela sempre me tratou bem, abraçava-me e tratava-me com um grande carinho, dizia-me que eu era uma netinha querida. Chorei quando li aquela mensagem logo de manhã: "A avó acabou de falecer, partiu em paz". Estava eu no trabalho e comecei a chorar. Porque tinha um grande carinho por aquela senhora, e não esperava que fosse já.
A minha melhor amiga foi acusada de insensível porque não estava a chorar aos prantos. Na minha opinião, a dor não se mede pelo choro. A mãe dela achou a partida demasiado cedo, quando a senhora já tinha 83 anos e já estava debilitada, já lhe custava e se cansava bastante a andar. Estava perto de precisar de uma bengala. Algo que ela não queria usar.
A morte é muito chata, é má quando chega demasiado cedo, e igualmente má quando vem tarde, mas neste caso ela estava a começar a sofrer e foi feita a vontade dela: não ficar dependente nem agarrada a uma cama. Só resta aceitar que numa certa idade a hora chega e é melhor assim do que ver a pessoa sofrer. Falo por experiência própria. Há 12 anos perdi uma avó que ficou algum tempo acamada devido a um AVC. Não falava, não sabíamos se nos reconhecia pois quando a íamos visitar não reagia de forma alguma, nem um simples som nem um pequeno mexer da mão. Não sabíamos sequer se tinha dores. Estava simplesmente ali fisicamente. Será que ainda estava mental ou espiritualmente? Tinha 78 anos. Há 4 anos perdi um avô que começou deixar de andar, de reconhecer as pessoas. Felizmente posso dizer que sempre me reconheceu quando eu o ia visitar. Mas já não era ele, o avô bem disposto e com piadas. Era um avô que chamava e perguntava por um irmão já falecido. Tinha 81 anos.
Quando um familiar, ou uma pessoa querida, morre com uma idade já avançada só nos resta aceitar. Custa muito, dói muito. Custou-me muito perder o meu avô, pois foi mais recente, eu era muito ligada a ele. Ia vê-lo todos os dias, mas a vida é mesmo assim. A lei da vida é serem os filhos/netos a enterrarem os pais/avós e não o contrário. É mais triste serem os pais a enterrar um filho. Não podemos ser egoístas e querer alguém connosco fisicamente se a pessoa não está bem, seja física ou mentalmente.
A morte é má, sim é. Mas a morte também traz paz e tira o sofrimento. Tanto à pessoa que está doente, a sofrer com dores, como aos familiares que estão a vê-la sofrer e muitas vezes não conseguem fazer nada para ajudar.